terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pra frente, Grécia!

Eu cresci, e acho que muitas outras pessoas também, lendo e ouvindo que o mundo deve à Grécia os fundamentos da civilização como a conhecemos. Não só penso que é verdade isso: tenho a impressão de que se ficarmos apenas no plano do legado cultural, e mesmo nos restringindo nesse campo somente ao papel provavelmente sem rival da mitologia grega na formação do pensamento moderno, essa dívida já seria gigantesca. Mas tem mais, muito mais. Por exemplo, as Olimpíadas. Não é exagero afirmar que um mísero porcentual de tudo que Nike, Coca-cola, Adidas, Umbro, fora governos às vezes mal-intencionados, já lucraram em cima desse grande invento dos helênicos seria suficiente para deixá-los nadando em dinheiro. Sobre os últimos, aliás, poderia me referir a um certo e repulsivo bigodinho em 1936, mas seria grosseiro e injusto com uma senhora loura e a maioria do povo que ela representa, os quais mencionarei algumas linhas adiante. Tem, ainda, tudo o que eles fizeram na filosofia, na literatura, na ciência política, na matemática, no teatro etc etc etc. Por isso, se eu tivesse a oportunidade, sugeriria aos ricaços que estão se colocando à frente do problemão em que se tornou a crise grega, como Nicolas Sarkozy e Angela Merkel (essa governa um país podre de rico, mas de passado não completamente suntuoso, como é o grego), que parem de falar abobrinhas e usem seu enorme poder para articular um esforço especial dos manda-chuvas mundiais e pagar a dívida histórica com o país de Aristóteles, evitando a humilhação planetária e em tempo real a que ele vem sendo submetido - a internet disponibiliza informações detalhadas sobre cada novo centavo de dracma que a Grécia passa a dever, minuto a minuto. O presidente da China já se propôs a ajudar, e não somente a Grécia, mas também Portugal e outros que também estão na pindaíba. Tem 3 trilhões de dólares na conta-poupança, eu nem sabia que existia tanto dinheiro assim no mundo guardado num só lugar. Mas exigiu que os europeus esnobes, porém falidos, desçam do salto e reconheçam que os ricos, e portanto quem manda, agora são eles. Acho muito justo. Dilma Roussef, outra que também toma conta de um colchão bastante recheado (falou na TV, em alto e bom, em coisa de 250 ou 300 bilhões de dólares, não lembro bem), fez coro e disse que o Brasil também tá podendo e quer ajudar. Pois bem, eles e outros que governam países endinheirados de berço ou que subiram na vida recentemente, como é o nosso caso, se unam para socorrer a mãe de todos. Ficar pagando esse mico é que a Grécia não pode. Eu sou insuspeito pra falar, pois não sou grego. Mas, mesmo com toda a difamação atual, ficaria orgulhoso se fosse – já pensou a possibilidade de ser um descendente, ainda que remoto, de Amen-hotep e Nefertiti? Esta, aliás, ocupou as manchetes recentemente ao ser apontada pelos pesquisadores como uma espécie de provável primeira top model da história. Ou seja, até no campo mais frívolo das celebridades Perseu, Acrísio, Hades, Atena e companhia detêm patente. Minha ideia pode ser irreal, provavelmente é mesmo, na verdade não estou nem aí pra isso, nem poderia estar. No mundo da geopolítica global, que é tal e qual o mundo das pessoas comuns no cotidiano, onde na grande maioria das vezes vale mais o que se tem do que o que se é, ironicamente, nós, pessoas comuns, somos todos sujeitos inexistentes. Mas, definitivamente, não dá pra não torcer para a Grécia sair desse buraco. (Os demais não que eu torça contra, mas, para mim, eles que se virem).

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